Anos 30 a 60
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre
Manifestações de rua em Porto Alegre em favor da Revolução de 30.
Em 1928 Getúlio Vargas sucedeu a Borges de Medeiros, e foi mais um castilhista no poder. Buscou o apoio dos estancieiros representando a classe junto ao governo federal, e protegendo os sindicatos que eles estavam organizando. Descobrindo nos custos de transporte o maior problema, ampliou as ferrovias e incentivou a primeira companhia aérea do estado, a futura VARIG. Para facilitar o crédito, fundou o Banco do Estado do Rio Grande do Sul. Sua maior proeza, contudo, foi a dissipação de antigas rivalidades políticas que afligiam o Rio Grande do Sul desde muito tempo. O fruto disso foi a construção da Aliança Liberal, da qual foi o candidato às eleições nacionais em 1930, vencendo a competição, contudo, Júlio Prestes. Mas este não chegaria a tomar posse, sendo deposto pela Revolução de 30, que guindou Getúlio à Presidência com decisiva participação dos gaúchos.[3]Getúlio Vargas assumiu o governo levando sua herança política castilhista e a experiência que tivera com os sindicatos gaúchos, e diz-se que foi uma fase de "gauchização" da política do Brasil, mas temperada com os ideais tenentistas. Decretou a intervenção nos estados e através da Constituição de 1934 introduziu reformas importantes como o voto secreto e obrigatório para maiores de 18 anos; o voto feminino; previu a criação da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral, entre outras coisas. Seu governo instituiu uma versão do castilhismo conhecida como populismo, pois buscou atrair as classes populares na construção de uma nova sociedade. Tinha bons propósitos, mas eles não bastaram para que a oposição se calasse, e em pouco tempo movimentos se organizaram em vários pontos do país para removê-lo do Catete. No Rio Grande do Sul a oposição encontrou forças
Por outro lado, diversas reformas impostas pelo governo federal não estavam sendo cumpridas no estado, pois a elite industrial e comercial resistia a abrir mão de direitos tradicionais. Novas greves foram organizadas, as entidades operárias romperam relações com o Ministério do Trabalho, e o clima se tornou tenso novamente nos círculos da produção..[3] Também a política estadual continuava convulsionada, pois nesse momento o Brasil, amedrontado com a "ameaça bolchevique", se encontrava largamente influenciado pelos regimes totalitários europeus como o Nazismo e o Fascismo. A repercussão disso no estado foi especialmente intensa pois os descendentes dos imigrantes italianos e alemães se haviam identificado com o que se passava em seus países ancestrais, e nessa altura esses grupos já constituíam grandes e fortes colônias, respondendo por 50% da população e da renda totais do estado, e alguns de seus representantes atingiam posições de eminência no empresariado e na política, como o Intendente de Porto Alegre, Alberto Bins, de origem alemã, que em declarações públicas expressou sua simpatia pelo Nazismo. Os alemães logo passaram a ostentar suas preferências políticas em passeatas vestidos de trajes militares e carregando bandeiras com a suástica, enquanto que os italianos se ufanavam de sua etnia e conquistas incentivados pelo próprio Mussolini. Outros ainda aderiam ao Integralismo, de caráter similar[4][19].
Abertura da Exposição de 1935 em Porto Alegre.
Sede do Banco Pelotense.
Metalúrgica Abramo Eberle, anos 1940-50.
Apesar da agitação, a economia havia se recuperado bastante bem depois da crise econômica mundial de 1929. Na verdade ela relativamente pouco havia afetado o estado, salvo seu setor financeiro, com a falência de bancos importantes como o Banco Pelotense, o que selou o início de um longo período de estagnação econômica para Pelotas e outras cidades.[20] Mas nesta época o Rio Grande do Sul abastecia significativa uma parcela do mercado nacional com sua produção agropecuária. Tanto é que em 1935, comemorando o centenário da Revolução Farroupilha, foi organizada outra grande exposição geral Os movimentos de direita culminaram em 1937 com a criação do Estado Novo através de novo golpe de estado de Getúlio, que impôs uma Constituição fascista. A euforia dos descendentes de imigrantes, que se reuniram em passeatas por vários pontos do estado para aclamar o novo regime, logo se desfez, pois Getúlio começou a orientar a política em direção à construção de um senso de identidade nacional, e assim todos os estrangeirismos começaram a ser severamente censurados, iniciando um tempo de perseguições e repressão nas colônias, e em vez de colaboradores no processo de crescimento e povoação os imigrantes passaram a ser vistos como potenciais inimigos da pátria. O processo chegou ao extremo com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial contra os países do Eixo, com pesadas consequências econômicas e sociais para a região de imigração, incluindo as colônias da capital[19][22].
Na economia a virada foi em direção à unificação do mercado nacional, com perda de dinamismo regional. Num momento em que algumas indústrias gaúchas já se projetavam nacionalmente, como a Eberle, a Renner, a Berta e a Wallig, reversamente se tornava mais fácil a penetração no mercado gaúcho de concorrentes nacionais. Ao mesmo tempo desaqueciam as economias coloniais baseadas em empreendimentos familiares, iniciando um processo de desvalorização econômica dos artesanatos e manufaturas tradicionais, das indústrias caseiras e das cooperativas. Com esse impacto negativo sobre as colônias também iniciou o êxodo rural no estado e apareceram as primeiras favelas
Com o fim da II Guerra e com a concomitante deposição de Getúlio, as instituições democráticas começaram a se restabelecer, e em 1947 foi eleito um novo governador, Walter Jobim, comprometido com a proposta de expandir a eletrificação das colônias para evitar o êxodo rural. Para isso construiu diversas centrais de energia, num programa que teve continuidade com seus sucessores. Em sua gestão foi aprovada uma nova Constituição Estadual, ampliando os poderes do Legislativo gaúcho. Getúlio fora deposto mas manteve seu prestígio, e logo se tornou o líder do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que teve no estado uma de suas maiores bases eleitorais. Assim o apelo às massas e ao nacionalismo, e o combate às tendências de esquerda, continuavam vivos. No estado a política se dividia entre o Partido Libertador, porta-voz da elite pecuarista, o Partido Social Democrático, defendendo os interesses da burguesia agroindustrial, e o PTB, atuando pelo trabalhismo, a nova versão do populismo getulista, que tinha em Alberto Pasqualini seu mentor local. Getúlio acabou sendo reeleito para a Presidência da República, consagrando o trabalhismo como linha de governo.[3][4]
O suicídio de Getúlio em 1954 foi intensamente sentido no Rio Grande do Sul, havendo enormes manifestações de rua. Mas sua época parecia ter mesmo passado, pois poucas semanas após o trágico evento os trabalhistas perdiam a eleição para governador, assumindo Ildo Meneghetti como um fenômeno eleitoral até então sem precedentes na política gaúcha. Descendente de italianos, sua ascensão ao poder máximo do estado foi um claro indicador de que a discriminação que os imigrantes enfrentaram durante os anos anteriores havia sido superada. Já fora duas vezes prefeito de Porto Alegre, onde deixara obra sólida priorizando a habitação popular. Mas como governador não conseguiu cumprir muitas metas. O estado estava entrando em uma crise econômica onde, apesar do crescimento do número de indústrias e da introdução de novas e lucrativas lavouras como a soja, deixava de ser importador de mão-de-obra para ser exportador. E a situação de Meneghetti como opositor do novo presidente Juscelino Kubitschek deixou o estado à margem dos investimentos federais em pleno Desenvolvimentismo. Sucedeu-lhe Leonel Brizola, que seguiu pela tradição trabalhista. Seu governo foi pautado por um Plano de Obras, que tinha como objetivo melhorar a infraestrutura e ampliar a rede escolar. Encampou empresas estrangeiras, fundou a Caixa Econômica Estadual do Rio Grande do Sul, reequipou a polícia, estimulou uma reforma agrária de âmbito estadual, criando o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária, e estimulou a criação de empresas de porte como a Refinaria Alberto Pasqualini e a Aços Finos Piratini. Sua atuação mais dramática foi o lançamento da campanha da Legalidade, em 1961, que levou multidões para as ruas, quando o Palácio Piratini, onde ele se entrincheirara, foi votado ao bombardeio pelas chefias militares federais, o que, devido à desobediência dos soldados gaúchos, acabou não acontecendo.[3][4]
REFERÊNCIAS
- César, Guilhermino. As Raízes Históricas. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
- Damasceno, Athos. Artes Plásticas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1970
- Costa, Eimar Bones da (ed). História Ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Já Editores, 1998
- Quevedo, Júlio. História Compacta do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2003
- Holanda, Sérgio Buarque de (org.). História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora DIFEL, 1976.
- Suess, Paulo. O anti-herói Sepé Tiaraju. Conselho Indigenista Missionário. 10 de fevereiro de 2006
- Flores, Moacyr. Guerras e conflitos no Rio Grande do Sul. Cadernos de Cultura do Memorial do Rio Grande do Sul
- Xavier, Paulo. A Estância. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
- César, Guilhermino. Primeiros Cronistas do Rio Grande do Sul: 1605-1801. Porto Alegre: EdiUFRGS, 1998
- Lisle, James George Semple. The life of Major J. G. Semple Lisle: containing a faithful narrative of his alternate vicissitudes of splendor and misfortune, Piccadilly: W. Stewart, No. 194, opposite York House, 1799, 382 pp.
- Saint-Hilaire, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2002
- Macedo, Francisco Riopardense de. Porto Alegre: Origem e Crescimento. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1999
- Museu Júlio de Castilhos - um século contando a história gaúcha. Revista Museu (em português).
- ↑ a b Simon, Círio. Origens do Instituto de Artes da UFRGS - Etapas entre 1908-1962 e Contribuições na Constituição de Expressões de Autonomia no Sistema de Artes Visuais do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: PUC, 2003.
- ↑ a b c Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. Porto Alegre: EdiUFRGS, 2006
- Corte Real, Antônio. Subsídios para a História da Música no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Movimento, 1984
- Cine Theatro Capitólio Memorial na página do IPHAE (em português).
- A história do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Portal Oficial do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
- Maestri, Mário. Os Gringos Também Amam. Revista Espaço Acadêmico, nº 88, setembro de 2008
- Lagemann, Eugênio. O Banco Pelotense & o Sistema Financeiro Regional. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985
- Eskinazi, Davit. A arquitetura da exposição comemorativa do centenário da Revolução Farroupilha de 1935 e as bases do projeto moderno no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2003
- ↑ Ribeiro, Cleodes. Festa e Identidade: Como se fez a Festa da Uva. Caxias do Sul: UCS, 2002.
- Mostra Revista do Globo 1929 - 1939. Exposição virtual. Ex-Libris (em português).
- Silva, Joselina da. A União dos Homens de Cor: aspectos do movimento negro dos anos 1940 e 50. Scientific Electronic Library Online
- História da Feira do Livro. Porto Cultura (em português).
- Rigatto, Mário. A Saúde. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
- Kremer, Alda Cardoso. Panorama da Educação. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
- Medeiros, Laudelino. As cidades. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
- Dinges, John. Os anos do Condor. Uma década de terrorismo internacional no Cone Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. pp. 347-353
- Reis, Nicole Isabel dos. Deu pra Ti anos 1970 - Rede Social e Movimento Cultural em Porto Alegre sob uma Perspectiva de Memória e Geração. Iluminuras. UFRGS, 2007
- Santos, Gilton Carneiro dos. A Dívida dos Estados: Composição, Evolução e Concentração. Brasília: ESAF, 1998.
- Coelho, Helena Maria Silva. A Dívida Ativa e o Pacto. Jornal Zero Hora, 10/08/2006 - disponível no site do Governo do Estado
- Governadora agradece contribuição do STF para o equilíbrio fiscal do Estado. Agência de Notícias do Governo do Estado do RS. Publicação: 10.09.08-20:12, Atualização: 10.09.08-20:30
- Economia. Portal do Governo do Estado do RS
- Seminário de Avaliação – Programa Pesquisa para o SUS - Rio Grande do Sul. Informativo DECIT (Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. nº 7 jan 2008
- Convênio entre Estado e CNPq garante R$ 30 milhões para a pesquisa no RS. Portal do Governo do Estado do RS, 03.08.09
- Programas de Fomento. Página da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS)
- Programa Gaúcho de Inovação e Tecnologia. Portal Agenda 2020
- A cidade ficou igual a tantas outras… As diferenças?. Boletim Memória. Caxias do Sul: Museu e Arquivo Histórico Municipal, nº 16, novembro de 1993
- Kiefer, Marcelo. Cidade: memória e contemporaneidade: ênfase: Porto Alegre - 1990 / 2004. Porto Alegre: UFRGS, 2006
- Cadernos de Restauro II: Capela Nosso Senhor Jesus do Bom Fim. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1989
- Moura, Tatiana Pintos. As relações entre o Estado e as religiões afro-brasileiras durante a ditadura militar (1964-1985). FAPA, sd
- Oliven, Ruben George. Em busca do Tempo Perdido: o movimento tradicionalista gaúcho. Portal da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais
- Becker, Sérgio. Um Testemunho do Primeiro Protesto Ecológico. Revista Agir Azul Memória nº 13
- Descobrimos o gaúcho social. Entrevista com Paixão Cortes. Revista Extra Classe, ano 4, n° 35, setembro de 1999 (em português).
- Rocha, Ana Luiza Carvalho da & Eckert, Cornelia. A Narrativa e a Captura do Movimento da Vida Vivida. UFRGS, Coleção Iluminuras, sd.
- Silveira, Sheila Messerschmidt da. Contribuição ao Estudo dos Espaços de Consumo Cultural na Cidade de Porto Alegre: A identidade do Brique da Redenção. UFRGS, Coleção Iluminuras, sd.
- Neto, Helena Brum. Regiões Culturais: A Construção de Identidades Culturais no Rio Grande do Sul e sua Manifestação na Paisagem Gaúcha. Santa Maria: UFSM, 2007