Durante a ditadura militar

Durante a ditadura militar

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre


Em 1962 Meneghetti foi reeleito, numa coligação que contou com o apoio de grandes forças conservadoras, enquanto os trabalhistas estavam divididos com o surgimento do trabalhismo renovador de Fernando Ferrari. Meneghetti representava a opção mais sensata para aqueles importantes setores da sociedade que, temendo o avanço comunista, estavam preparando o golpe militar de 64, quando o governador desempenhou um papel de relevo. Articulou ligações decisivas com líderes nacionais e na madrugada de 1º de abril de 1964 transferiu o governo estadual para Passo Fundo, a fim de não ser deposto pela resistência que se organizava em Porto Alegre pelas forças fiéis a Jango. No dia 4, após Jango se retirar para o exílio no Uruguai, Meneghetti voltou à capital, conduzido por uma força combinada de unidades da 3ª Divisão de Infantaria do Exército, sediada em Santa Maria, e de tropas da Brigada Militar.[3]
O movimento militar consolidou-se através da força. De imediato se verificaram reações em várias esferas, incluindo manifestações de rua antigolpe, mas todas foram reprimidas com violência. O prefeito de Porto Alegre, Sereno Chaise, foi preso, e junto com ele centenas de pessoas. Mas em sua maioria foram libertados pouco depois na primeira semana. Entretanto a repressão permaneceu como o recurso usual de preservação da nova ordem, justificada como medida de segurança nacional, e logo aconteceram outras prisões, junto com o fechamento de jornais, das ligas camponesas, dos sindicatos e da União dos Estudantes, cassações de políticos, extinção dos partidos e expurgos de professores das universidades. Também se criou o sistema de eleição indireta para governador. O principal teórico do regime foi o general gaúcho Golbery do Couto e Silva, que assumiu a chefia do Serviço Nacional de Informações, embora ele pessoalmente não fosse um adepto da linha dura. Até 1968 os estudantes permaneceram como a principal força de oposição aos militares, desafiando-os em vários confrontos. Nesse mesmo ano foi instituído o AI-5, que desencadeou novo ciclo de cassações, generalizou a censura à imprensa e a oficialidade passou a se valer da tortura e morte como meio de silenciar as vozes contrárias.[3][4]

Centro Administrativo do Estado, erguido nos anos 1970, com um monumento de Carlos Tenius em primeiro plano celebrando a colonização açoriana em Porto Alegre.
Entrando nos anos 1970 o regime militar atravessava sua fase mais rigorosa, mas ao mesmo tempo o país iniciava uma fase de euforia com a conquista do tricampeonato mundial de futebol e com o aceleramento econômico, num ciclo conhecido como o Milagre Brasileiro, quando o crescimento chegava a mais de 10% ao ano. Com isso se realizaram grandes obras públicas nas cidades, em especial Porto Alegre, e o estado passava a ser um dos motores da economia nacional por meio do enorme incremento da cultura da soja, então o principal produto do estado e o mais importante item das exportações do Brasil, com crédito subsidiado, isenção de impostos e massivos investimentos na mecanização das lavouras. Com a soja em alta os produtores enriqueceram e a concentração de terras aumentou, e os rendimentos públicos foram aproveitados também na expansão das redes de assistência médica e escolar, mas a mecanização expulsou o trabalhador do campo agravando o êxodo rural. A ênfase em apenas um setor produtivo, protegido por diversos incentivos, acabou por desequilibrar a economia do estado com uma grave crise fiscal, exacerbada com a subida do preço do petróleo, levando ao déficit público e a um severo endividamento externo.[3]
Em meados da década, contando com o apoio da Igreja Católica, a oposição conseguira se reorganizar em torno do MDB, o único partido oposicionista autorizado. Em 1974 aconteceu em Porto Alegre o primeiro debate político "livre" transmitido pela televisão brasileira, quando se enfrentaram os candidatos gaúchos ao senado, Paulo Brossard, do MDB, e o governista Nestor Jost. O planejamento e a realização deste evento foram feitos com extremo cuidado pela TV Gaúcha, evitando pontos mais sensíveis de polêmica, mas mesmo assim foi um divisor de águas. O resultado das eleições confirmou o predomínio do MDB em todo o país, e se iniciava lentamente a fase de abrandamento do regime militar. O governador Sinval Guazzelli teve assim de dialogar com a oposição para poder governar. Mas outros setores do governo, mais radicais e descontentes com as novas concessões, conceberam ações independentes de repressão a fim de desmoralizar o governador, tornando-se emblemático o sequestro de Lilian Celiberti e Universindo Diaz, que foram levados ao Uruguai e lá torturados e condenados por crimes políticos, como parte da Operação Condor, uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul com o objetivo de coordenar a repressão aos opositores dessas ditaduras. De qualquer forma o processo de distensão era irreversível. Em 1979, em iniciativas pioneiras, o estado começou um processo de anistia dos perseguidos políticos, quando a Assembléia homenageou os cassados, a Câmara municipal de Porto Alegre reabilitou vereadores e a prefeitura de Cruz Alta readmitiu servidores expulsos pelos militares. Ao mesmo tempo os partidos voltavam a ter seu funcionamento autorizado e renascia no Rio Grande o movimento sindical, com a eclosão de várias greves, mas não sem enfrentar repressão violenta, o mesmo acontecendo com a articulação do Movimento dos Sem-Terra.[3][29]
REFERÊNCIAS
  1. César, Guilhermino. As Raízes Históricas. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  2. Damasceno, Athos. Artes Plásticas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1970
  3. Costa, Eimar Bones da (ed). História Ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Já Editores, 1998
  4. Quevedo, Júlio. História Compacta do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2003
  5. Holanda, Sérgio Buarque de (org.). História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora DIFEL, 1976.
  6. Suess, Paulo. O anti-herói Sepé Tiaraju. Conselho Indigenista Missionário. 10 de fevereiro de 2006
  7. Flores, Moacyr. Guerras e conflitos no Rio Grande do Sul. Cadernos de Cultura do Memorial do Rio Grande do Sul
  8. Xavier, Paulo. A Estância. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  9. César, Guilhermino. Primeiros Cronistas do Rio Grande do Sul: 1605-1801. Porto Alegre: EdiUFRGS, 1998
  10.  Lisle, James George Semple. The life of Major J. G. Semple Lisle: containing a faithful narrative of his alternate vicissitudes of splendor and misfortune, Piccadilly: W. Stewart, No. 194, opposite York House, 1799, 382 pp.
  11. Saint-Hilaire, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2002
  12. Macedo, Francisco Riopardense de. Porto Alegre: Origem e Crescimento. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1999
  13. Museu Júlio de Castilhos - um século contando a história gaúcha. Revista Museu (em português).
  14. a b Simon, Círio. Origens do Instituto de Artes da UFRGS - Etapas entre 1908-1962 e Contribuições na Constituição de Expressões de Autonomia no Sistema de Artes Visuais do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: PUC, 2003.
  15. a b c Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. Porto Alegre: EdiUFRGS, 2006
  16. Corte Real, Antônio. Subsídios para a História da Música no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Movimento, 1984
  17. Cine Theatro Capitólio Memorial na página do IPHAE (em português).
  18. A história do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Portal Oficial do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
  19. Maestri, Mário. Os Gringos Também Amam. Revista Espaço Acadêmico, nº 88, setembro de 2008
  20. Lagemann, Eugênio. O Banco Pelotense & o Sistema Financeiro Regional. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985
  21. Eskinazi, Davit. A arquitetura da exposição comemorativa do centenário da Revolução Farroupilha de 1935 e as bases do projeto moderno no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2003
  22. Ribeiro, Cleodes. Festa e Identidade: Como se fez a Festa da Uva. Caxias do Sul: UCS, 2002.
  23. Mostra Revista do Globo 1929 - 1939. Exposição virtual. Ex-Libris (em português).
  24. Silva, Joselina da. A União dos Homens de Cor: aspectos do movimento negro dos anos 1940 e 50. Scientific Electronic Library Online
  25. História da Feira do Livro. Porto Cultura (em português).
  26. Rigatto, Mário. A Saúde. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  27. Kremer, Alda Cardoso. Panorama da Educação. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  28.  Medeiros, Laudelino. As cidades. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  29. Dinges, John. Os anos do Condor. Uma década de terrorismo internacional no Cone Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. pp. 347-353
  30. Reis, Nicole Isabel dos. Deu pra Ti anos 1970 - Rede Social e Movimento Cultural em Porto Alegre sob uma Perspectiva de Memória e Geração. Iluminuras. UFRGS, 2007
  31. Santos, Gilton Carneiro dos. A Dívida dos Estados: Composição, Evolução e Concentração. Brasília: ESAF, 1998.
  32.  Coelho, Helena Maria Silva. A Dívida Ativa e o Pacto. Jornal Zero Hora, 10/08/2006 - disponível no site do Governo do Estado
  33. Governadora agradece contribuição do STF para o equilíbrio fiscal do Estado. Agência de Notícias do Governo do Estado do RS. Publicação: 10.09.08-20:12, Atualização: 10.09.08-20:30
  34. Economia. Portal do Governo do Estado do RS
  35.  Seminário de Avaliação – Programa Pesquisa para o SUS - Rio Grande do Sul. Informativo DECIT (Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. nº 7 jan 2008
  36. Convênio entre Estado e CNPq garante R$ 30 milhões para a pesquisa no RS. Portal do Governo do Estado do RS, 03.08.09
  37.  Programas de Fomento. Página da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS)
  38. Programa Gaúcho de Inovação e Tecnologia. Portal Agenda 2020
  39. A cidade ficou igual a tantas outras… As diferenças?. Boletim Memória. Caxias do Sul: Museu e Arquivo Histórico Municipal, nº 16, novembro de 1993
  40.  Kiefer, Marcelo. Cidade: memória e contemporaneidade: ênfase: Porto Alegre - 1990 / 2004. Porto Alegre: UFRGS, 2006
  41. Cadernos de Restauro II: Capela Nosso Senhor Jesus do Bom Fim. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1989
  42. Moura, Tatiana Pintos. As relações entre o Estado e as religiões afro-brasileiras durante a ditadura militar (1964-1985). FAPA, sd
  43.  Oliven, Ruben George. Em busca do Tempo Perdido: o movimento tradicionalista gaúcho. Portal da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais
  44. Becker, Sérgio. Um Testemunho do Primeiro Protesto Ecológico. Revista Agir Azul Memória nº 13
  45. Descobrimos o gaúcho social. Entrevista com Paixão Cortes. Revista Extra Classe, ano 4, n° 35, setembro de 1999 (em português).
  46. Rocha, Ana Luiza Carvalho da & Eckert, Cornelia. A Narrativa e a Captura do Movimento da Vida Vivida. UFRGS, Coleção Iluminuras, sd.
  47. Silveira, Sheila Messerschmidt da. Contribuição ao Estudo dos Espaços de Consumo Cultural na Cidade de Porto Alegre: A identidade do Brique da Redenção. UFRGS, Coleção Iluminuras, sd.
  48.  Neto, Helena Brum. Regiões Culturais: A Construção de Identidades Culturais no Rio Grande do Sul e sua Manifestação na Paisagem Gaúcha. Santa Maria: UFSM, 2007