Século XX
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Modernização
Chegada do trem em Ijuí.
Fachada principal do suntuoso prédio dos antigos Correios e Telégrafos, hoje o Memorial do Rio Grande do Sul, construído na febre edificatória de Porto Alegre no início do século XX.
Quando Borges subiu ao poder o Rio Grande do Sul já tinha cerca de um milhão de habitantes. Castilhos ainda regia a política estadual como chefe do PRR, e indicou Borges mais uma vez para Presidente ao fim do primeiro mandato. Enquanto Castilhos era uma figura carismática, Borges construiu uma imagem de discrição e modéstia, não apreciava ostentação nem publicidade pessoal, mas manteve da mesma forma que seu mentor uma rédea curta no sistema de poder e foi outro eficiente administrador, cujo lema era "nenhuma despesa sem receita". Reorganizou o sistema de impostos e terminou a reforma do Judiciário iniciada por Castilhos, incentivou a produção dos imigrantes e a pequena indústria, apoiou a melhoria nos serviços municipais expandindo redes de água, luz e esgoto, estatizou ferrovias e o porto de Rio Grande. Manteve uma relação distante com o governo federal, e por isso o estado acabou sendo prejudicado com um sempre magro repasse de verbas.[3]
Quando ia concorrer a um terceiro mandato a oposição apresentou um adversário de peso, e Borges teve de encontrar um outro nome, Carlos Barbosa, que acabou vencedor, fazendo um governo de continuidade. Na eleição seguinte Borges retornou ao governo, conseguindo se reeleger uma quarta vez, e realizou mais uma administração importante. Enfrentou uma das maiores ondas de greves da história do estado, mas foi conciliador com os grevistas. Aumentou os salários dos funcionários públicos e decretou medidas protecionistas para produtos essenciais como o feijão, arroz e banha. Mas teve de pedir um substancial empréstimo externo para financiar seu intenso programa de obras públicas. Em Porto Alegre ele foi um dos motores de uma febre construtiva que reformulou o perfil da paisagem urbana, sendo erguidos muitos prédios públicos de grande luxo e realizadas várias obras de urbanização, já que a cidade deveria ser "o cartão de visitas do Rio Grande". Diversas cidades do interior nessa época já ultrapassavam os dez mil habitantes onde se multiplicavam os negócios e a sociedade formava uma nova estratificação. Bagé, Uruguaiana, Rio Pardo, bem como a capital há mais tempo, já imitavam os hábitos requintados dos pelotenses, desfrutando de cafés, salas de cinema e teatro, e lazeres diversificados.[3][12]
Carvoeiros, início do século XX. Acervo do Museu do Carvão
Assinatura do Pacto de Pedras Altas.
No início do século o estado alcançava a terceira posição na economia nacional. O censo de 1900 acusou 1 149 070 habitantes; 67,3% de analfabetos; 43% dos empregos eram na área rural. Do total de habitantes, quase 300 mil eram trabalhadores; destes 56 mil eram mulheres, 49 mil eram artesãos ou possuíam um ofício, 31 mil estavam no comércio. Havia também 3165 "capitalistas", como chamavam os grandes industriais e comerciantes, e 4455 funcionários públicos. Mas as demandas do progresso em ritmo acelerado resultaram em que a vida das classes operárias estava longe de ser tranquila. Mesmo que a industrialização em vários setores já tivesse facilitado as coisas, ainda era primitiva e exigia muito trabalho pesado. Os salários eram baixos e mal cobriam o sustento mais básico; os ambientes fabris não primavam pelo conforto e salubridade; ao contrário, segundo os padrões atuais, eram locais de trabalho escravo e antros de disseminação de doenças. Em muitas fábricas a disciplina ainda era imposta a chicote mesmo para trabalhadores brancos; funcionários eram submetidos a revistas periódicas e pagavam pesadas multas por infrações mínimas; crianças e mulheres faziam usualmente a mesma jornada que os homens adultos, que podia chegar a ter 15 horas. No campo a carga de trabalho era ainda mais pesada - o expediente durava na prática todo o dia, todos os dias do ano, envolvendo toda a família, e muitas vezes com resultados incertos. Em vista dessas condições opressivas, desde muito cedo os operários urbanos e os colonos rurais se viram obrigados a encontrar garantias e assistência por si mesmos, por meio das associações de mútuo socorro e sindicatos, que fortaleceram a classe, dando-lhe oportunidade de articulação e expressão pública. Começava, junto com a modernização, a proletarização da força trabalhadora, e com ela não admira a quantidade de greves e manifestações populares contra as políticas governamentais, exigindo melhores condições, que começaram a pipocar por todas as partes. De 1890 a 1919 os operários fizeram 73 greves locais e três greves gerais, em anos de explosiva organização, quando predominavam idéias anarquistas e socialistas. Exercendo uma pressão efetiva difícil de ignorar, as greves tiveram muitas vezes resultados favoráveis aos trabalhadores.[3]
Nesse cenário em rápida transformação, a antiga oligarquia pastoril, que em boa parte enriquecera enormemente e fora enobrecida no império, e ainda mantinha no fim do século XIX o monopólio dos meios de produção mais importantes, diante da crescente concentração das atividades comerciais e industriais nos centros urbanos, ambas em franca ascensão, viu-se rapidamente perdendo dinheiro, espaço político e influência.[5] O resultado foi a última das grandes guerras civis do estado, a Revolução de 1923, chamada de A Libertadora, que procurou acabar com o continuísmo de Borges de Medeiros. O tumulto mal chegou às portas das cidades, limitou-se ao campo, e foi um confronto desigual. De um lado os revoltosos, desorganizados, em menor número e com munição precária, usando armas do tempo da Revolução Farroupilha, contra a Brigada Militar, bem treinada e equipada com metralhadoras e grande volume de soldados. Os revoltosos perderam a questão e Borges ficou por um quinto mandato, mas teve de renunciar a uma sexta reeleição. O governo federal não se envolveu, a não ser como intermediário nas conversações que levaram à Paz de Pedras Altas, selada em 14 de dezembro, que foi um acordo bastante equânime e conciliador. Possibilitou um entendimento real entre as facções maragato (libertadores, assisistas) e chimango (republicanos, borgistas). Do lado da Federação, houve avanços e recuos no setor econômico. De início o governo tentou aplacar os estancieiros suspendendo a importação de charque platino, concorrente mais barato, mas logo depois iria proibir o escoamento de produtos brasileiros através de portos estrangeiros, o que foi mais um golpe para as charqueadas da fronteira oeste, que usavam o porto de Montevidéu. A exportação de charque caiu pela metade, o mesmo acontecendo com a carne resfriada. A economia gaúcha no final desses primeiros trinta anos do século XX só foi salva pelos ganhos crescentes da indústria e do comércio, capazes inclusive de sustentar novos avanços no campo cultural. Logo no ano seguinte um outro foco de agitação se revelaria na fronteira oeste, por ocasião da formação da Coluna Prestes, enquanto o governo estadual enviava 1200 soldados para auxiliar no combate aos revoltosos tenentistas em São Paulo. Esses movimentos, contudo, tiveram bem menor repercussão no Rio Grande do Sul e se desenrolaram principalmente em outros estados.[3]
O atelier de escultura do Instituto de Belas Artes em 1915.
Cena de opereta montada em Caxias do Sul, 1922
O time do Grêmio em 1931.
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