Cultura e outros indicadores entre 1930 e 1960

Cultura e outros indicadores entre 1930 e 1960


Palácio Farroupilha, erguido em 1955.
Glênio Bianchetti: Jogo do osso, xilogravura, 1955. Acervo do MARGS. Exemplo da arte regionalista de cunho social praticada pelo Clube de Gravura e que se tornou importante para a renovação das artes gráficas brasileiras.

Na cultura os principais movimentos desses trinta anos aconteceram na capital. Foi importante nesta época a criação em 1934 da Universidade de Porto Alegre, de âmbito estadual, que foi a antecessora da UFRGS.[15] Pelo fim dos anos 1930 o Modernismo já estimulava um debate intenso entre a elite pensante sobre os novos rumos que a arte vinha tomando. Esse movimento foi introduzido em Porto Alegre primeiro pelas artes gráficas, com destaque para as ilustrações em revistas como a Revista do Globo, que tinha grande circulação, e que mantinha em suas oficinas um grupo de talentosos ilustradores, alguns dos quais mais tarde definiriam o perfil de toda a melhor arte local e estadual. Entre eles estavam Ernest Zeuner, Edgar Koetz, Francis Pelichek e João Fahrion[2][23] Para os negros, que vinham até então sendo continuamente desprezados pela sociedade, o ano de 1943 representou o marco inicial de sua mobilização, quando se fundou a União dos Homens de Cor, que cinco anos mais tarde já estaria ramificada por mais dez estados da Federação[24]
Porto Alegre nos anos 1950 já tinha seu desenho largamente transformado pela arquitetura modernista, que incluía grandes melhorias na planta urbana e grandes prédios públicos. A cidade já realizava sua Feira do Livro,[25] dispunha de um museu especialmente dedicado às artes, o MARGS, uma universidade federal, a UFRGS, ouvia os concertos de sua nova orquestra sinfônica, a OSPA, e nomes como Mario Quintana, Aldo Obino, Lupicínio Rodrigues, Dante de Laytano, Aldo Locatelli, Érico Veríssimo, Manuelito de Ornelas, Paixão Côrtes, Walter Spalding, Bruno Kiefer, Túlio Piva, Barbosa Lessa, Armando Albuquerque, Ado Malagoli e Ângelo Guido, entre muitos outros, já eram referência nos campos da literatura, poesia, historiografia, tradicionalismo e folclore, artes plásticas, música e crítica de arte.[2][15]
Na virada para a década de 1960 a vida boêmia de Porto Alegre enriquecera com um forte colorido político e cultural, reunindo expressivo grupo de intelectuais e produtores artísticos influentes, alinhados ao Existencialismo e ao Comunismo. Entre o fim da década anterior e os anos que precederam o golpe de 64 foram montadas peças teatrais de vanguarda, em abordagens polêmicas e desafiadoras do status quo; as artes plásticas mostravam uma feição realista/expressionista muitas vezes de cunho social, regionalista e panfletário, destacando-se a atividade de artistas como Francisco Stockinger, Vasco Prado, Iberê Camargo e os membros do Grupo de Bagé (de fato atuantes na capital) e do Clube de Gravura de Porto Alegre. Nessa época a Livraria Vitória se tornara a maior arena de discussão filosófica e política.[2][3][12]
Nos anos 1950 o estado apresentava uma das melhores perspectivas de vida do país. A vida do gaúcho se estendia em média até os 55 anos, 30% acima da média nacional, enquanto que a mortalidade infantil era metade da brasileira; a incidência de tuberculose estava em franco declínio; iniciava-se a fluoretação da água potável; havia cerca de dois mil médicos em atividade e mais de vinte mil leitos hospitalares disponíveis.[26] O ensino por todo o estado atingia um grau de sensível avanço, expandindo-se bastante para a zona rural, e com grandes colégios atuando em muitas cidades, sendo que para isso se contou frequentemente com o esforço dos religiosos, especialmente os católicos, mantenedores além de colégios também de hospitais, asilos e outras obras assistenciais. No fim da década de 1950 havia mais de duas mil escolas primárias, e as faculdades se multiplicavam, chegando a quase 150.[27] O número de cidades com mais de cinco mil habitantes chegava a cerca de 70 e se patenteava a conurbação de Porto Alegre com as cidades vizinhas, formando uma região metropolitana com mais de 800 mil habitantes, quando o total do estado ultrapassava 5 milhões.[28]
REFERÊNCIAS
  1. César, Guilhermino. As Raízes Históricas. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  2. Damasceno, Athos. Artes Plásticas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1970
  3. Costa, Eimar Bones da (ed). História Ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Já Editores, 1998
  4. Quevedo, Júlio. História Compacta do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2003
  5. Holanda, Sérgio Buarque de (org.). História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo/Rio de Janeiro: Editora DIFEL, 1976.
  6. Suess, Paulo. O anti-herói Sepé Tiaraju. Conselho Indigenista Missionário. 10 de fevereiro de 2006
  7. Flores, Moacyr. Guerras e conflitos no Rio Grande do Sul. Cadernos de Cultura do Memorial do Rio Grande do Sul
  8. Xavier, Paulo. A Estância. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  9. César, Guilhermino. Primeiros Cronistas do Rio Grande do Sul: 1605-1801. Porto Alegre: EdiUFRGS, 1998
  10.  Lisle, James George Semple. The life of Major J. G. Semple Lisle: containing a faithful narrative of his alternate vicissitudes of splendor and misfortune, Piccadilly: W. Stewart, No. 194, opposite York House, 1799, 382 pp.
  11. Saint-Hilaire, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 2002
  12. Macedo, Francisco Riopardense de. Porto Alegre: Origem e Crescimento. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1999
  13. Museu Júlio de Castilhos - um século contando a história gaúcha. Revista Museu (em português).
  14. a b Simon, Círio. Origens do Instituto de Artes da UFRGS - Etapas entre 1908-1962 e Contribuições na Constituição de Expressões de Autonomia no Sistema de Artes Visuais do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: PUC, 2003.
  15. a b c Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. Porto Alegre: EdiUFRGS, 2006
  16. Corte Real, Antônio. Subsídios para a História da Música no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Movimento, 1984
  17. Cine Theatro Capitólio Memorial na página do IPHAE (em português).
  18. A história do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense Portal Oficial do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
  19. Maestri, Mário. Os Gringos Também Amam. Revista Espaço Acadêmico, nº 88, setembro de 2008
  20. Lagemann, Eugênio. O Banco Pelotense & o Sistema Financeiro Regional. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985
  21. Eskinazi, Davit. A arquitetura da exposição comemorativa do centenário da Revolução Farroupilha de 1935 e as bases do projeto moderno no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRGS, 2003
  22. Ribeiro, Cleodes. Festa e Identidade: Como se fez a Festa da Uva. Caxias do Sul: UCS, 2002.
  23. Mostra Revista do Globo 1929 - 1939. Exposição virtual. Ex-Libris (em português).
  24. Silva, Joselina da. A União dos Homens de Cor: aspectos do movimento negro dos anos 1940 e 50. Scientific Electronic Library Online
  25. História da Feira do Livro. Porto Cultura (em português).
  26. Rigatto, Mário. A Saúde. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  27. Kremer, Alda Cardoso. Panorama da Educação. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  28.  Medeiros, Laudelino. As cidades. In Editora Globo (ed). Rio Grande do Sul: Terra e Povo. Porto Alegre: Globo, 1964
  29. Dinges, John. Os anos do Condor. Uma década de terrorismo internacional no Cone Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. pp. 347-353
  30. Reis, Nicole Isabel dos. Deu pra Ti anos 1970 - Rede Social e Movimento Cultural em Porto Alegre sob uma Perspectiva de Memória e Geração. Iluminuras. UFRGS, 2007
  31. Santos, Gilton Carneiro dos. A Dívida dos Estados: Composição, Evolução e Concentração. Brasília: ESAF, 1998.
  32.  Coelho, Helena Maria Silva. A Dívida Ativa e o Pacto. Jornal Zero Hora, 10/08/2006 - disponível no site do Governo do Estado
  33. Governadora agradece contribuição do STF para o equilíbrio fiscal do Estado. Agência de Notícias do Governo do Estado do RS. Publicação: 10.09.08-20:12, Atualização: 10.09.08-20:30
  34. Economia. Portal do Governo do Estado do RS
  35.  Seminário de Avaliação – Programa Pesquisa para o SUS - Rio Grande do Sul. Informativo DECIT (Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. nº 7 jan 2008
  36. Convênio entre Estado e CNPq garante R$ 30 milhões para a pesquisa no RS. Portal do Governo do Estado do RS, 03.08.09
  37.  Programas de Fomento. Página da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS)
  38. Programa Gaúcho de Inovação e Tecnologia. Portal Agenda 2020
  39. A cidade ficou igual a tantas outras… As diferenças?. Boletim Memória. Caxias do Sul: Museu e Arquivo Histórico Municipal, nº 16, novembro de 1993
  40.  Kiefer, Marcelo. Cidade: memória e contemporaneidade: ênfase: Porto Alegre - 1990 / 2004. Porto Alegre: UFRGS, 2006
  41. Cadernos de Restauro II: Capela Nosso Senhor Jesus do Bom Fim. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1989
  42. Moura, Tatiana Pintos. As relações entre o Estado e as religiões afro-brasileiras durante a ditadura militar (1964-1985). FAPA, sd
  43.  Oliven, Ruben George. Em busca do Tempo Perdido: o movimento tradicionalista gaúcho. Portal da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais
  44. Becker, Sérgio. Um Testemunho do Primeiro Protesto Ecológico. Revista Agir Azul Memória nº 13
  45. Descobrimos o gaúcho social. Entrevista com Paixão Cortes. Revista Extra Classe, ano 4, n° 35, setembro de 1999 (em português).
  46. Rocha, Ana Luiza Carvalho da & Eckert, Cornelia. A Narrativa e a Captura do Movimento da Vida Vivida. UFRGS, Coleção Iluminuras, sd.
  47. Silveira, Sheila Messerschmidt da. Contribuição ao Estudo dos Espaços de Consumo Cultural na Cidade de Porto Alegre: A identidade do Brique da Redenção. UFRGS, Coleção Iluminuras, sd.
  48.  Neto, Helena Brum. Regiões Culturais: A Construção de Identidades Culturais no Rio Grande do Sul e sua Manifestação na Paisagem Gaúcha. Santa Maria: UFSM, 2007